terça-feira, 6 de julho de 2010

Reforma no campo (de futebol)


Por Tadeu dos Santos

Já disse alguém que as grandes descobertas surgem meio que ao acaso. Aparecem sem qualquer pré-aviso, são dadas a repentes.

Há tempos, vinha a matutar acerca da necessária e inevitável saída para o grande problema que nos assola. Sim! Prossigo não suportando o capitalismo. Esses burgueses são terríveis. A todo momento é uma nova tecnologia que aparece, as televisões não cessam de crescer. E tome Ipod, Iphone, blu-ray, plasma, LCD, células-tronco. Por último, imagine que até vacina pra AIDS eles dizem que descobriram.

Quero o sossego de um retiro socialista, o grande problema são os tiros que sempre se fazem necessários durante o dito processo revolucionário. Por que será que esses porcos capitalistas relutam tanto em nos entregar os chamados meios-de-produção. Eles ainda não são sabedores da lógica interna da História? A saber, aquela que diz que nós, os trabalhadores, seremos os donos do mundo. Algo mais ou menos parecido com aquela cena do Titanic, do Di Caprio e da Winslet, na frente do navio, o vento no cabelo...lembra? Pois é.

Tão certo como o paraíso está logo ali na próxima esquina a nos esperar, é que nós, os trabalhadores, ganharemos essa batalha. Trabalharemos, trabalharemos e ao final... à cada um de acordo com suas necessidades. A coisa será um pouco tediosa, eu sei. Mas não teremos mais esses vis representantes da Burguesia a nos dizer o que fazer. Alguém, é verdade, virá nos dizer o que fazer, como fazer, como proceder, o que dizer e sobretudo, o que calar. Contudo, será a vanguarda do proletariado. Nossos verdadeiros representantes e não esses representantes da burguesia que nós, é bem verdade, vivemos a eleger. Volto a pensar no tédio, mas também penso nos gulags e concluo que tudo ficará bem.

Tanta digressão e já me ia esquecendo da grande descoberta que fiz.

Como passar do capitalismo ao socialismo utilizando a teoria Gandhiana da não-violência. Socialismo sim, tiros não.

É simples e barato.

Os sindicatos representantes dos diferentes trabalhadores se uniriam aos partidos que pregam a revolução: PSOL, PSTU, PCB, PC do B, PCO. Devo incluir o PT?

Devidamente unidos e aliançados (neologismo?) partiriam à etapa subseqüente, a saber, compra de kombis e amplificadores. Os veículos parariam diante das ditas instalações burguesas e anunciariam a programação da semana:

Domingo: O Existencialismo é mesmo um humanismo? É e saiba porque.

2ª feira: O internacionalismo de Trotsky e as razões da machadinha na cabeça

3ª feira: Quem matou mais? Hitler, Stalin ou Mao? - Se pensas que foi Hitler, saiba que a culpa é toda de Hollywood.

4ª feira: A escola de Frankfurt foi um retrocesso?

5ª feira: PT e a receita que concilia Socialismo/corrupção.

6ª feira: Entendendo as diferenças: Chávez, Chaves e Chapolin Colorado.

Sábado: Sem expediente. Há muitos cristãos em nosso meio

Há nisso tudo, bem sei, uma boa porção de terror psicológico. Isso é tortura auditiva. A causa, porém, é mais do que justa. Pense nesta vindoura sociedade livre das peias da exploração econômica e da corrupção. Todos seremos iguais (é bem verdade que nossos genes apontam em outra direção), e reinará a mais absoluta concordância acerca dos negócios da nação (até mesmo porque com gulags não há quem resista).

E tudo isso sem um disparo sequer. Ao fim e ao cabo, virá o vil burgues apresentar sua incondicional rendição. Para tanto é suficiente que à tortura auditiva, se dê o devido controle dos meios impeditivos do acesso do som ao cérebro. Nada de tapa-ouvidos, ou chumaços de algodão.

Algumas kombis, uns tantos amplificadores e a propagação dos assuntos que fazem parte de nossas cotidianas pautas e pronto é nosso o poder.

Trabalhadores do mundo, uni-vos.

E aqui não se viam as kombis da ironia lançada ao ideal revolucionário. Homens, mulheres e crianças portavam faixas e cartazes. Alguns traziam às mãos enxadas e foices. A primeira umbilicalmente ligava ao trabalho árduo do campo. A segunda prenhe de simbolismo dizia das noites revolucionárias que ainda fazia morada no imaginário daqueles ali reunidos.

O movimento arrefecera. A resistência vinda das hostes do poder fizera-se pequena. De lá também acorriam fartos recursos que, bem sabiam, vinham do que os economistas denominam exação fiscal. Impostos que incidiam sobre o trabalho e o capital. O fim do capitalismo, paradoxalmente, seria bancado com verbas do próprio capitalismo. Tudo isso era facilmente verificável. Esperava-se algum rubor nos rostos, mas não, estavam impassíveis. As contradições fazem parte do processo revolucionário. Seria fácil a construção de um aparato teórico hábil a justificar a, digamos assim, incoerência. Já temos aí um eufemismo. A este outros tantos se somarão. Ao final teremos um teoria e mais adiante a revolução. Com dinheiro público, é verdade. Mas o que importam os meios se o fim é deveras nobre. Não vês?


O Máximo diz que devemos desconfiar daqueles que se dizem independentes, mas mantém estreitas relações com o poder. Ele está com a razão. Não há jornalista independente com CTPS assinada por uma gigante das comunicações. De igual maneira, também não há independência, isenção e autonomia num movimento que recebe recursos públicos.

E se o assunto é reforma agrária no campo, fica aqui o meu aval. Faça-a no campo cujo proprietário atende pela alcunha de Dunga. Ponha pás, enxadas e foices às mãos de Josué, Felippe Melo, Júlio Baptista, Elano, Ramirez e todos os demais. Faça com que descalcem as chuteiras, tirem-lhes a bola de perto. Tranque-os num gulag e joguem a chave no oceano.

Eis aí uma nobre causa a animar o ideal revolucionário.

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