segunda-feira, 12 de julho de 2010

"Filho feio não tem pai"


Por Tadeu dos Santos

Já diz o velho ditado que “filho feio não tem pai”. Não nos entregamos a esses excessos pragmáticos e assim conseguimos ver beleza, e mais do que isso, dignidade, nesses rebentos a que a grande maioria insiste em negar a paternidade.

A derrota do time do Dunga é uma criança órfã. Jaz ali ao berçário e não há quem se digne a dizer: dá-me essa criança. É feia, bem sei, mas é de minha autoria. Olha só, tem a minha cara.

Apreciadores que somos do jornalismo investigativo, lançamos mão das modernas técnicas de mapeamento de DNA e descobrimos que essa mal formada criança tem não apenas um, mas uma infinidade de pais. Ei-los:

SIR RICARDO TEIXEIRA – O malogro de 2006 foi atribuído ao excesso de liberdade, saídas noturnas de atletas e jogadores com sobrepeso. À época (e desde sempre) ele era o Presidente da CBF e impassível assistiu a tudo. Com a culpa posta no contexto, fazia-se necessário encontrar quem colocasse ordem na casa. A escolha de Dunga, bem como o estabelecimento de suas principais atribuições, tais quais: perseguir jogadores e construir muros, foi dele, Sir Teixeira.

IMPRENSA – Esteve a reboque dos fatos. Seu posicionamento dependia dos resultados obtidos pelo time do Dunga. Se vencesse tudo se perdoaria. O comportamento autoritário de Dunga que, claro, divorciou a seleção do povo, seria recebido como um mero jeito de ser do comandante. A censura aos jogadores e à imprensa, bem como a ausência de imagens nos remetia aos conhecidos regimes autoritários que infelizmente ainda vicejam por aí. Nada disso, porém, tinha a menor importância. Vencer, vencer e vencer era tudo o que contava. O jornalismo visto durante a cobertura da Copa é o que diuturnamente se faz neste país. É caudatário de interesses, é servil, é partidário, corporativista e guiado por cartilhas. E há por esses sítios numerosos vendilhões ávidos por tomar à mão as cartilhas e difundi-las como máximas de isenção.

Não citaremos os nomes. Não por medo, fique claro. Eles não merecem aparecer neste sítio. Ademais, todos sabem. Na verdade, todos estão cansados de saber.

JOGADORES – Houve um tempo em que o profissionalismo no futebol era incipiente. Os dirigentes assumiam as funções paternas e os jogadores tinham comportamento servil. Os contratos eram leoninos e a escolaridade baixa. Tudo a contribuir para o quadro que chegou a beirar o folclórico que tinha o jogador na condição de pessoa que sequer conseguia articular verbalmente o que lhe ia pela cabeça.

Atualmente os “nossos” jogadores atuam em grandes clubes da Europa. São muitíssimo bem remunerados, tem assessoria de imprensa e são conhecedores de seus deveres e direitos.

Inconcebível, portanto, que se tenham deixado aprisionar pelo comandante. Incompreensível que tenham permitido a imposição da censura. Concordaram que durante um mês não pensariam e não falariam. Em troca teriam os louros da vitória. Até onde eles continuariam a ceder? Venderiam a mãe? Trairiam os amigos?

AUGUSTO CURY – Autor de livros de autoajuda. Sua palavra chave é MOTIVAÇÃO. Gostaríamos de vê-lo a utilizar a medicação que receita. É de bom alvitre que ele se motive e então escreva um bom livro. Um livro imaginativo, uma boa história. Que se furte aos clichês que infestam tudo o que sai de sua lavra.

O “comprometimento” ouvido ao fim de cada perolação de Dunga foi-lhe infundido por Cury. Há de se comprometer. Há de se motivar. Não há, todavia, comprometimento ou motivação suficientes a fazer com que o talento faça morada em Josué, Felipe Mello, Júlio Baptista, Gilberto Silva, Elano e os demais.

Comprometa-se e motive-se e faça falar o seu cão. Suas chances, não duvide, são bem superiores às que Dunga detinha. Se der certo você enriquece. Se não, as coisas prosseguirão nos seus lugares. O seu cão seguirá sendo apenas um cão (não muito sortudo, é verdade). E você um direto seguidor de Cury e Dunga.

Cury, pasmem, é um fenômeno editorial. Já vendeu mais de 10 milhões de livros. Se algum mérito deve ser conferido a esses números é o de haver o nobre Cury posto uma pedra sobre os escólios que Adam Smith lançou em seu “A Riqueza das Nações”, de 1776. O mercado, prova-o cristalinamente o “escritor”, nem sempre faz as melhores escolhas.

DUNGA – O que mais dizer acerca de Dunga. Creio firmemente que esgotamos nossa safra de adjetivos. Dunga é o capataz. É o que cumpre a ordem. É o que aparece fazendo o serviço sujo. é útil. Que nunca nos falte um Dunga é o que vai ao mais intestino dos pensamentos do sistema. Dunga suja as mãos, sente o cheiro putrefato e não faz cara feia. Conseguimos. Ainda tínhamos alguns. Eta safra boa!

É o seguinte:

Neném Prancha

O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais importante que isso...

Bill Shankly

O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol...


Albert Camus

Futebol moderno é que nem pelada. Todo o mundo corre e ninguém sabe para onde.

Neném Prancha

O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia.

Neném Prancha

Pelé nunca será superado, porque é impossível haver algo melhor que a perfeição. Ele teve tudo: físico, habilidade, controle de bola, velocidade, poder, espírito, inteligência, instinto, sagacidade...

Jornalista do Sunday Mirror de Londres

Posso ser um novo Di Stéfano, mas não posso ser um novo Pelé. Ele é o único que ultrapassa os limites da lógica...

Um comentário: