quarta-feira, 28 de julho de 2010

Não se encomenda um Zico


Por Ameríndio Sevilha

A postagem é breve e o tom melancólico, revelando uma nostalgia incompatível com um marxista e Rubro-Negro. Mas um marxista Rubro-Negro de condicionantes ibéricos não poderia passar incólume. E o que é pior: saudade da tradição, contra a qual deve ser feita a Revolução.


Argumento que o futebol brasileiro só abandonou a tradição, ingressando efetivamente na era das massas, quando, na sua infra-estrutura, precariamente constituída, como é típico ao capitalismo de periferia, implementa-se o fim da lei do passe e há a generalização de um mercado da bola de trabalho assalariado.


Não faz muito tempo nem sequer 30 anos.

E a revolução, provocada pela submissão ao mecanismo de preços de sentimentos, paixões e valores tradicionais, se não cancelou a imagem do culto, modificou-a profundamente, adaptando-a à indústria cultural. O craque não mais se afirma associado à imagem de um clube. Possui unidade e duração, servindo de suporte. Mercadorias de todo o tipo a ele aderem. Aqui o sentido é literal e a prova está em cada centímetro quadrado da roupa que vestem.

Na era das massas, a infra-estrutura ganhou uma escala que excedeu de muito a "aura' do raro. Objetos e eventos passaram a ser orientados por novos critérios de produção, agora voltados para uma escala igualmente inédita, padronizados: a apropriação popular implica necessariamente uma simplificação que a arte até então não experenciara.


A simplicidade popular pode ser tão refinada quanto o elemento tradicional. A linguagem que o futebol produz surgiu devagar, a partir da segunda metade do século passado, dessa nova realidade. Periféricos, respondemos progressivamente com cópias. A transfusão de métodos levou a uma produção tropical de formas européias, ao invés de termos produzido nossa própria simplificação, nos termos do que já sabíamos melhor do que ninguém.

O futebol não merece mais um Zico.

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