segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pós-Modernidade Rubro-Negra

Companheiro da mesma geração, adolescente nos anos 70, e velho parceiro daquelas peladas descalços na rua, 28 tem intimidade, e sobretudo razão, pra me observar a limitação intelectual.

Concordo que ainda não compreendo direito esse papo de pós-modernidade. E é obtusidade, de fato, pois tenho lido com acuidade Fredric Jameson, Terry Eagleton e o grande E. P. Thompson (recomendação, aliás, de Maxwell Gonzaga, que, de quando em quando, manda alguma coisa).

Tanta leitura que já deveria ter aprendido que Val Baiano, Deivid, Correa e o Jean são a diluição da arte da bola nas condições de produção da mercadoria futebol.

Fazer, como volta e meia faço, citações, estabelecer, como sempre faço, ilações, são um equívoco, além de uma falta de respeito com a memória dos mortos. Evocar Drummond, ainda que para acompanhá-lo de Raul, leandro, Marinho, Mozer, enfim, não obedece sequer a linha branca, do tipo do que se despacha no lar do Prado, junto com o caboclo lp 45 da roça do tietê.

O que dá alívio é que, em meio ao que não entendo, palavras enfileiradas diante de um muro burro, há uma boa citação de auxílio, do historiador Pierre Nora:

"O fato que só exista uma palavra em francês para designar a história vivida e a operação intelectual que a torna inteligível ( o que os alemães distinguem por gerschichte e historie ) torna-se aqui sua profunda verdade: o movimento que nos transporta é da mesma natureza que aquele que o representa para nós. A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente: a história, uma representação do passado."

Isso dá pra ver. Basta comparar com o resto. Rubro-Negros somos a vida que segue, com as lembranças que permanecem, revisitadas, às vezes inconscientes, surpreendendo.

Já a história é o que se necessita pesquisar a respeito, pois que só restaram indícios, a exemplo do resto carioca, cujos títulos de significação, quando não únicos, imemoriais, também já perderam sua estrutura de continuidade, em novas gerações de infelizes que não tiveram a oportunidade de ser Flamengo.

Talvez seja a memória de títulos Rubro-Negros que insiste em se atualizar que me impeça a compreensão correta e, somada a uma inteligência apenas razoável, pragmática, resista incólume à pós-modernidade que combina Val Baiano e um Jorginho de Macedo paulista.

SRN





Nenhum comentário:

Postar um comentário