A
31de março de 1983, portanto há 19 anos do golpe (na realidade, este se
consumou a primeiro de abril de 1964, mas não ficava bem...), o jornal O Estado
de São Paulo publicava à página 18 que a “Democracia Corintiana” poderia
acabar. Aliás, era pouco mais ou menos este o título da matéria: “A Democracia
Corintiana pode acabar” .
Vindo
de onde veio, do mundo do futebol, a iniciativa de um coletivo de jogadores surpreendia. Sócrates, Vladimir e
Casagrande também eram uma interrogação para o modelo político da transição
tutelada.
O
que é notável, na leitura de outra reportagem que ocupa a edição do dia
anterior, 30/03/84, também do Estado de São Paulo, à página 21, sob o título “A
democracia que Travaglini não quis”, é a abordagem. Percebe-se o esforço por
encontrar elementos que ponham em xeque a experiência no Parque São Jorge. A
ênfase no constrangimento do treinador Travaglini, interpretado como uma
contenção de quem quer se abster de fazer uma denúncia grave. Travaglini,
entretanto, revela grandeza, não se deixa instrumentalizar. Não se considera
nem uma ‘vítima’ nem um ‘mártir da democracia (...) afinal, ajudei a construir
esse projeto. Sinto que faço parte dele.”
Havia,
ao que parece, um desgaste. Entretanto, cabia compreendê-lo no processo de
aprofundamento da democracia direta. Travaglini não havia sido escolhido pela
conjuntura. Portanto, fazia todo sentido a declaração de Sócrates à reportagem,
uma das caixas na mesma página, intitulada “Sócrates; ‘nosso movimento está
fortalecido.’”
“Sócrates
afirmou que Mário não foi escolhido pelos jogadores, coisa que agora acontece
com Zé Maria, ‘o que aumenta a responsabilidade de todos porque é um passo à
frente no trabalho que estamos desenvolvendo.’”
Faz
hoje pouco mais ou menos 30 anos.
O
lazer na sociedade industrial capitalista não passaria, pois, de
entretenimento, daquilo de que o trabalhador precisa a fim de passar o tempo,
enquanto descansa antes de trabalhar no dia seguinte. Esta era a tese de
Adorno, em seu livro “A Indústria Cultural e a Sociedade”, publicado pela Paz e
Terra, em 2002. Tese já criticada, pois a diversão não está apenas no
entretenimento. Pode vir acompanhada de compreensão. Talvez, ajude a mudar a
vida. E o grande mérito de Sócrates, em que pese suas contradições –
contradições, de resto, que todos temos: fez do futebol um lazer crítico.
Justo
a negação da Fifa.
SRN
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