segunda-feira, 14 de março de 2016

A insistente analogia com o golpe de 64


Não temos mais Guerra Fria, em que o fantasma da Revolução Cubana marcava todo esforço de autonomia, confundindo-o com a expansão do “perigo vermelho’ na América Latina; não temos sequer fumaça de alguma coisa que pudesse lembrar a acusação que se fazia a Jango de tentar instaurar uma “República Sindicalista”, haja vista a completa desmobilização e precarização do campo do trabalho atual; em 64, havia um governo que contivera a remessa de lucros, nacionalizara multinacionais não por ‘nacionalismo terceiro-mundista”, num surto típico de uma época, como afirma Fernando Henrique em “Dependência e Desenvolvimento na América Latina”, mas simplesmente porque elas não cumpriram os serviços públicos para os quais obtiveram licença; somos hoje um país urbano, ao contrário da época do golpe, não temos mais Forças Armadas interessadas em intervir no processo político. Não há,portanto, bases sociais de sustentação da analogia. Mas, esta persiste. Por quê?
Lembro-me do início do texto  “18 Brumário’ de Marx. As revoluções de classe sempre buscam imagens do passado a fim de legitimação: a chamada “Revolução Gloriosa’, na Inglaterra do século XVII, com Cromwell inspirando-se no Velho Testamento; adiante um século, a Revolução Francesa, apoiando-se na Roma Antiga. E conclui: as Revoluções Sociais do futuro criarão suas próprias imagens.
A ilação pertinente é que rupturas, quando baseadas em imagens excessivamente tradicionais, já demonstram o caráter de classe que possuem. Estamos longe de qualquer ruptura, mas não resta dúvida de que a direita ganhou o espaço público brasileiro. “Vai pra Cuba”, “A bandeira nacional não é vermelha”, até a pichação de um símbolo como o muro da UNE,em 64, revolucionária e emancipadora, hoje resumida à linha auxiliar do governo, não sendo sequer reconhecida pelo próprios estudantes.
Penso que uma das interpretações está no legado do lulopetismo. Quatro mandatos investindo na falácia de um “capitalismo social de massas’, em que a incorporação se dá na condição de consumidores e não de cidadãos. O que importava era consumir. Celular, televisão de plasma, viagens á Disney e carros novos financiados a perder de vista, até à morte do infeliz do paraíso das compras. Um consumismo acrítico, cujas conseqüências se voltam agora contra seus próprios marqueteiros.
90% de rejeição constituem uma composição que inclui a própria massa de novos consumidores incorporados nos últimos anos, agora obrigados a permanecer mais de três meses com o “celular velho”.
O resto é o que se espera, com os Aparelhos Ideológicos do Estado (Althusser) simplesmente cumprindo seu papel social.
Por isso, agora, indispensável a defesa da CONSTITUIÇÃO CIDADÃ.
A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ É INTOCÁVEL!
“Semipresidencialismo” é golpe!

SRN

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