O
anticomunismo sempre foi um espantalho disponível. A julgar pelo seu uso, temos
uma história política presa a um acontecimento inamovível. Se comparam o que
vivemos hoje com 64, desprezando tudo o que é relevante (Guerra Fria, República
Sindicalista, intervenção militar, governo, de fato, progressista), para nos
fixarmos em formas vazias, caricaturas anacrônicas, por que não comparar com o
Estado Novo, uma vez que tivemos o “Plano Cohen” – “uma conspiração do
comunismo internacional” -, forjado pelo general Mourão, o ‘Vaca Fardada’, o
mesmo que, em 64, precipitou o golpe?
Braudel sempre vale, seu tempo tripartite. Daí
a minha pergunta: o anticomunismo é próprio e, portanto, ainda pauta na longa
duração ou o que temos é um problema de conjuntura em que analogias puramente
formais impedem a verificação adequada do problema que consiste justo no
consenso, na vitória da hegemonia de direita?
SRN
É próprio sim. Depois do que houve com o polo difusor do comunismo no mundo (a União Soviética), a esquerda teve que se metamorfosear para iludir o anticomunismo, pois a extinção desse sim - alegando-se que não haveria mais razão para sua existência pós URSS - teria sido um efeito colateral muito útil para a esquerda. Entretanto, os mais atentos e clarividentes, já naquela época lembravam que o fim do sovietismo não era o fim do comunismo. Cuba, China e Coréia do Norte continuam por aí, mas além disso, surgiu na América Latina um populismo de esquerda que visava a implantação do socialismo do século XXI. Hoje, apesar de todas as mudanças cosméticas na China, e de tentativas nesse sentido em Cuba, já não é mais possível tentar transformar o anticomunismo em algo anacrônico, pois aqui e acolá, pululam demonstrações inequívocas de simpatia pelo comunismo, como na Rússia de Putin, e na Bolívia de Evo Morales (lembremos por exemplo de seu presente ao Papa: um crucifixo em forma de foice e martelo). Nesse caso em questão, portanto, o anticomunismo ainda pauta na longa duração, porque o comunismo não morreu.
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