sábado, 12 de março de 2016

Amanhã: Salão Nacional de Caricatura


Logo no início do ’18 Brumário”, Marx faz referência a imagens do passado utilizadas pelas revoluções modernas a fim de ganharem clareza e facilitar o convencimento. A Revolução Francesa “se travestiu ora de República Romana, ora de cesarismo. (...) (...). Do mesmo modo, um século antes Cromwell e o povo inglês haviam tomado de empréstimo a linguagem, o fervor e as ilusões do Antigo Testamento em favor da sua revolução burguesa.”
Já a emancipação, de fato, teria de produzir suas próprias imagens. “Não é do passado, mas unicamente do futuro, que a Revolução Social do século XIX pode colher a sua poesia. Ela não pode começar a dedicar-se a si mesma antes de ter despido toda a superstição que a prende ao passado.”
Como o “18 Brumário” é um texto de análise de conjuntura – embora vá além, haja vista a capacidade de Marx de articular o que Braudel, adiante, no século XX, chmaria de tempo tripartite (acontecimento, conjuntura, estrutura) -, do golpe de Estado na França, pelo sobrinho de Napoleão, Luis Bonaparte, a 2 de dezembro de 1851, a referência ao acontecimento é demolidora:
“Agora eles [os franceses] não só têm a caricatura do velho Napoleão, mas também o próprio Napoleão caricaturado em atitude condizente com os meados do século XIX.”
A caricatura de Napoleão obtivera sucesso porque a Europa continental, em 1948, acabara de vir do que ficou conhecido como a “Primavera dos Povos”, movimento que se alastrara fulminante,  com o povo, os trabalhadores, tomando o poder. Caíram, com a mesma rapidez que subiram, e a Europa continental nunca mais conheceu a Revolução Social ( a Rússia, ainda feudal, no início do século XX,  é uma outra análise). Havia, portanto, base social, na pequena burguesia, entre os camponeses,  os “legitimistas” (grande propriedade fundiária) e os “orleanistas” (o grande capital emergente) para o golpe do “sobrinho do Tio”.
Tudo isso pra relacionar com a verossimilhança caricatural com o que veremos amanhã, nas ruas do Brasil, misturada, com espalhafato, à insatisfação legítima de uma população que acreditou na salvação pelo consumo, agora privada, e com as contas altas das tarifas públicas.
“Vai pra Cuba”, “A bandeira brasileira não é vermelha”, pichações oportunistas à sede da UNE, aliada ao governo, pois quem as fez sabe da  emulação com a  imagem icônica do golpe de 64 e pensa que, assim, recria, artificialmente, como numa novela da globo, um cenário de golpe recidivo. As únicas contribuições novas à ridicularia são a camisa da CBF e  pedidos à vitória de Trump pra que possa nos salvar.
São essas imagens, encarnando símbolos poderosos, que serão mobilizadas convenientemente. Mas, vale a pergunta: quais forças relevantes, de fato, estão interessadas na ruptura constitucional, a exemplo do golpe de classe de 64?
Ainda considero que, tanto o ativismo judiciário, quanto a intolerância manifesta ao lulopetismo nada tem de anomia (crise de valores e da regulação social), caracterizando, na verdade, um radicalismo da democracia representativa de um Estado de Direito do nosso capitalismo típico.
SRN


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