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no início do ’18 Brumário”, Marx faz referência a imagens do passado utilizadas
pelas revoluções modernas a fim de ganharem clareza e facilitar o
convencimento. A Revolução Francesa “se travestiu ora de República Romana, ora
de cesarismo. (...) (...). Do mesmo modo, um século antes Cromwell e o povo
inglês haviam tomado de empréstimo a linguagem, o fervor e as ilusões do Antigo
Testamento em favor da sua revolução burguesa.”
Já
a emancipação, de fato, teria de produzir suas próprias imagens. “Não é do passado,
mas unicamente do futuro, que a Revolução Social do século XIX pode colher a
sua poesia. Ela não pode começar a dedicar-se a si mesma antes de ter despido
toda a superstição que a prende ao passado.”
Como
o “18 Brumário” é um texto de análise de conjuntura – embora vá além, haja
vista a capacidade de Marx de articular o que Braudel, adiante, no século XX,
chmaria de tempo tripartite (acontecimento, conjuntura, estrutura) -, do golpe
de Estado na França, pelo sobrinho de Napoleão, Luis Bonaparte, a 2 de dezembro
de 1851, a referência ao acontecimento é demolidora:
“Agora
eles [os franceses] não só têm a caricatura do velho Napoleão, mas também o
próprio Napoleão caricaturado em atitude condizente com os meados do século
XIX.”
A
caricatura de Napoleão obtivera sucesso porque a Europa continental, em 1948, acabara
de vir do que ficou conhecido como a “Primavera dos Povos”, movimento que se
alastrara fulminante, com o povo, os
trabalhadores, tomando o poder. Caíram, com a mesma rapidez que subiram, e a Europa
continental nunca mais conheceu a Revolução Social ( a Rússia, ainda feudal, no
início do século XX, é uma outra
análise). Havia, portanto, base social, na pequena burguesia, entre os
camponeses, os “legitimistas” (grande
propriedade fundiária) e os “orleanistas” (o grande capital emergente) para o
golpe do “sobrinho do Tio”.
Tudo
isso pra relacionar com a verossimilhança caricatural com o que veremos amanhã,
nas ruas do Brasil, misturada, com espalhafato, à insatisfação legítima de uma
população que acreditou na salvação pelo consumo, agora privada, e com as
contas altas das tarifas públicas.
“Vai
pra Cuba”, “A bandeira brasileira não é vermelha”, pichações oportunistas à
sede da UNE, aliada ao governo, pois quem as fez sabe da emulação com a imagem icônica do golpe de 64 e pensa que,
assim, recria, artificialmente, como numa novela da globo, um cenário de golpe
recidivo. As únicas contribuições novas à ridicularia são a camisa da CBF
e pedidos à vitória de Trump pra que
possa nos salvar.
São
essas imagens, encarnando símbolos poderosos, que serão mobilizadas
convenientemente. Mas, vale a pergunta: quais forças relevantes, de fato, estão
interessadas na ruptura constitucional, a exemplo do golpe de classe de 64?
Ainda
considero que, tanto o ativismo judiciário, quanto a intolerância manifesta ao
lulopetismo nada tem de anomia (crise de valores e da regulação social),
caracterizando, na verdade, um radicalismo da democracia representativa de um
Estado de Direito do nosso capitalismo típico.
SRN
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