terça-feira, 31 de março de 2015

Com meus "Groucho Marx" e "Tomie Ohtake" no Salão de Humor de Cerquilho



Teatro Municipal de Cerquilho: CONFIRA OS SELECIONADOS PARA OS SALÕES DE CERQUIL...: O Departamento de Cultura de Cerquilho divulgou a Relação de selecionados para compor a exposição do 13º Salão de Humor e 16º Salão de Ar...

O golpe e a ditadura não são meras opiniões

Um dos grandes problemas da operação de apagamento pós-moderna, sobretudo em países como o Brasil, cujo passado traumático recente não recebeu o devido acerto entre História e Memória, é justamente o de confundir as coisas, como se tudo não passasse de mera opinião. 
É um mero ponto-de-vista, pois, adolescentes posarem ao lado de um torturador assassino, como um vovô de fim de semana, naquele circo de horrores do domingo 15, saudado pelo O Globo, como a "democracia tem novo 15 de março". 
Respeitar a divergência é outra falácia e que nada tem em concordar com a versão pós-moderna em que a história não passa de mais uma narrativa, dentre outras, uma espécie de modalidade literária. Nisso, Hobsbawn é decisivo, diz logo ao que veio em "Sobre História". Historiador não é ficcionista: 
"Defendo vigorosamente a opinião de que aquilo que os historiadores investigam é real. O ponto do qual os historiadores devem partir, por mais longe dele que possam chegar, é a distinção fundamental e,para eles, absolutamente central, entre fato comparável e ficção, entre DECLARAÇÕES HISTÓRICAS BASEADAS EM EVIDÊNCIAS E SUJEITAS À EVIDENCIAÇÃO E AQUELAS QUE NÃO O SÃO." 
O golpe e a ditadura,portanto, não são meras opiniões.
SRN

quinta-feira, 26 de março de 2015

Exposição Lan 90 Anos

Na melhor tradição carioca: arte, humor, bar, praia.

SRN


Laborie do Lado esquerdo da Tribuna de Honra



A paixão é inerente à política. Para a disputa do convencimento, então, é um recurso de arquibancada. Porém, tanto a militância quanto o argumento têm de conviver num espaço público que não criminalize as divergências. É quando torna-se indispensável a defesa encarniçada de posições contra manifestações que nada têm de democráticas. O apelo ao autoritarismo que marca a nossa história não pode esconder-se atrás da liberdade de expressão para matá-la.

É evidente que este governo está refém. Mantê-lo sangrando interessa às diversas modalidades do capital, bem como ao Eduardo Cunha e Renan Calheiros, sempre com boas propostas de negócio. E quem defende a manutenção de um governo legitimamente eleito vive o pior dos mundos, pois é logo chamado de corrupto, de um lado, e, do outro, cúmplice da direita. 

A direita, aliás, perdeu a vergonha. A “memória do silêncio”, de que nos fala Laborie, é a interpretação do silêncio no passado de acordo com os interesses do presente. O silêncio pode ter sido cúmplice ou consentimento. É quando, em geral, assume a forma de conciliação, uma pedra no passado a fim de evitar constrangimentos. Mas, e agora, em que nem sequer mais é o caso, em que a “memória do silêncio” não precisa substituir, também de Laborie, o “silêncio da memória”, a “má consciência”, a vergonha pelo que se fez no passado?

Não seria a hora de revisar a Lei da Anistia?

SRN


quarta-feira, 25 de março de 2015

Homenagem aos 90 anos do Lan

O Madureira, na primeira metade dos anos sessenta, foi a Cuba e jogou bola com Che Guevara. Por isso, jogar numa espécie de Madureira do cartum agora só é motivo de honra, sobretudo quando se é convocado à Primeira Divisão por Cartunistas Históricos, entre os quais Carlos Amorim e Francisco Ferreth


E o convite é logo pra jogar no Maracanã (em letra maiúscula, não este, pasteurizado, arena de shopping de Blatter, Marin e vírus anexos). 



A exposição que se realizará no Martinez será dedicada aos 90 anos de um outro cartunista histórico, ninguém mais ninguém menos do que o Lan. 



Esta é a minha homenagem.



SRN



terça-feira, 24 de março de 2015

Ditadura? Ninguém Sabe, Ninguém Viu



A relação entre História e Memória é hoje tema central na historiografia. Assim, do circo de horrores do domingo 15, mais do que a abjeção de um torturador e assassino afagado por jovens como um vovô herói de fim de semana, a ladainha dominante no senso comum verificado é o que martela, insistente:

“Quem era direito e trabalhava não sofreu nada com os militares.”

Lendo a bibliografia recente sobre o tema, por exemplo, em Janaina Cordeiro, “Anos de Chumbo ou Anos de Ouro? A memória social sobre o governo Medici”, artigo publicado na Revista Estudos Históricos (cujo link segue abaixo), da Fundação Getúlio Vargas, é possível notar como, para além do “binarismo maniqueísta” – resistência x colaboração; “Estado opressor x sociedade vitimizada” – , há uma série de matizes comportamentais, embora não significassem unanimidade, tampouco caracterizassem homogeneidade, que acabaram por produzir uma espécie de consenso social em relação à ditadura.

Entretanto, segundo Janaina, referenciando posições de outros historiadores, a memória coletiva que prevaleceu foi, paradoxalmente, a dos vencidos, como se a ditadura se tivesse imposto sobre uma sociedade vítima, em silêncio resistente, submetida a mecanismos de coerção – o único meio de sustentação daquela.

“Os militares, por sua vez, chamam atenção para o fato de que ‘uma vez derrotada, a esquerda esforçou-se por vencer, na batalha das letras, aquilo que perdeu no embate das armas’ (Martins filho, 2002).”

Confesso que não era uma experiência confortável reconhecer a validade do que lia, não apenas em Janaina, mas em vários outros historiadores que buscavam fugir do preto e branco e investigar o cinza matizado, complexo, perturbador, capaz de constrangimentos. Minha impressão, de imediato, era taxar, concluindo com aqueles que classificam tal esforço historiográfico de biombo de justificação do golpe 64 e da ditadura que se lhe seguiu: revisionismo de direita.

Até o circo de horrores do dia 15. Como explicá-lo? Ou tentar explicá-lo à base da manipulação midiática, já que faltava o elemento da coerção presente nas comemorações do Sesquicentenário da Independência, promovido pela ditadura em 1972, objeto do artigo de Janaina Cordeiro para avaliação do “consentimento social em relação ao regime”?

É pouco: a mídia pode muito, pode desestabilizar como vimos em Jango, como vemos agora com a Dilma, mas, pra isso, aproveitou-se, com o caráter oportunista que a caracteriza, da quantidade de impasses consideráveis, tanto ontem, como hoje.  O domingo 15 talvez tenha sido pior do que a adesão que contou com o apoio de relevantes associações civis e forte participação popular nos eventos públicos do  Sesquicentenário da Independência. Certamente, pois era explícita a legitimidade conferida à violência como método político. Em 72, a ditadura ainda poderia seduzir.

Não estaria, portanto, na ladainha dominante no circo de horrores do último dia 15 – “quem era direito e trabalhava não sofreu nada com a ditadura” - uma hipótese de investigação para as perguntas de Janaina na transcrição abaixo de trecho do seu artigo?

“Algumas perguntas se colocam quando refletimos a respeito da memória social construída sobre o governo Médici: se foram também, e para muitos, anos de ouro, porque a memória coletiva lembra o período apenas pelo espelho dos anos de chumbo? Por que se multiplicam relatos de resistências, como, por exemplo, o do grupo de jovens paulistas pertencentes à “classe média intelectualizada” que se reuniu para torcer contra a seleção brasileira de futebol na final da Copa do Mundo de 1970 (Almeida e Weiss, 1998)? Por que tantos relatos de resistências cotidianas, esvaziando, num certo sentido, o significado da luta dos grupos organizados contra o regime e o próprio significado do termo resistência? Por que os silêncios, inúmeros,sobre a adesão social à ditadura? Sobre o entusiasmo “alucinante” que caracterizou os anos do Milagre? Sobre a identificação de importantes parcelas da sociedade com os valores postulados pela ditadura, que foi,antes de tudo, civil-militar? Por que se calaram as vozes que descreviam o sagitariano presidente Médici como uma pessoa “(...) de bom coração, leal, (...) inclinada à caridade, benevolência e Justiça, aos assuntos religiosos e místicos, filosóficos, filantrópicos e intelectuais” (O Cruzeiro, janeiro de 1972)? Onde estão as mãos que o aplaudiam em estádios lota dos? Enfim, por que as imagens dos anos de chumbo, abordadas sob uma perspectiva que vitimiza os grupos de esquerda – cujo projeto de enfrentamento ar ma do a sociedade não compartilhava –, são eleitas como a memória desse tempo? Por que o silêncio em torno dos anos de ouro?”

SRN


http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1546/1008

segunda-feira, 23 de março de 2015

Eficácia Histórica ou Condenação Moral?



Segundo o historiador argentino, Luis Alberto Romero, em artigo publicado na Topoi, o historiador vive um dilema quando pratica a História do Tempo Presente. Dividido entre a eficácia historiográfica e a cidadania imediata, o passado recente traumático, que ainda dói, exige dele a difícil decisão entre buscar explicá-lo no meio de suas contradições e complexidades, em que não há heróis nem mocinhas indefesas, mas forças quase sempre desequilibradas (como no caso dos recentes Estados autoritários latino-americanos) com motivações e interesses conflitivos, e explicações simples e contundentes de condenação moral das ditaduras que o tomaram de assalto.

O circo de horrores do domingo 15 facilita a escolha, justificando a segunda opção. Qual historiador ficaria incólume vendo um agente do Dops transformado em herói de bravatas de assassinatos e torturas, ao lado de jovens sorridentes, como o vovô do fim de semana?

Ao mesmo tempo, porém, o que aparenta aberração é também fonte. Trata-se da alegoria do senso comum expresso em depoimentos correntes de que “quem trabalhava e era direito não teve nenhum problema com os militares.” Aliás, quem vocalizou isso há meses, em cadeia nacional, foi o Roger, do ‘Ultraje a Rigor”, falando a respeito do assassinato do Rubens Paiva, aqui perto, no quartel da PE, na Barão de Mesquita, pelos agentes da ditadura.

Será que estamos a caminho de superação do pressuposto da conciliação que orientou e que hoje impede a revisão da lei da Anistia?

SRN



Disputa de Memória

"Democracia tem novo 15 de março" / edição de O Globo de 16/03/2015



Por vivermos num presente contínuo, o passado é uma incógnita: com o apagamento do que se viveu, pode ser qualquer coisa. Este é o jogo em disputa hoje, do qual faz parte o espetáculo do circo de horrores daquele domingo 15, o que torna crucial a discussão do papel da mídia. Estamos falando de disputa de memória.

SRN

domingo, 22 de março de 2015

É fácil entender o que o gringo sente no Rio




A melhor coisa prum carioca é, de vez em quando, bancar o turista na sua própria Cidade. E aí dá pra ver a dimensão da alegria de quem chega. Um domingo nada carioca, de chuva,mas que começa no entorno do Cais do Valongo, depois pelo Municipal, valendo até uma ida ao Bondinho, onde só tinha gringo. Carioca vai ao Cristo e ao Bondinho uma vez na vida outra na morte. Mas, hoje foi o nosso dia. E pra fechar, mais uma vitória sobre o vice de sempre: 2x1




No meio do domingo, saindo do Municipal, na Cinelândia, entramos no modelo do VLT que será o novo transporte no Centro. Entramos no vagão, sentamos pra assistir ao vídeo e entra uma equipe de filmagem da prefeitura e nos pergunta se aceitaríamos dar uma entrevista. A repórter me pergunta o que havia achado do VLT, se seria uma boa solução pro centro do Rio. Disse o que achava. Ela, ao que parece se entusiasmou, achando que seria mais um carioca de prosélito da prefeitura e aí, então, veio a cereja do bolo:

"E as Olimpíadas, já se preparando?"

Ela rolou a bola na entrada da área pra que eu batesse sem goleiro:

"Quanto às Olimpíadas, sou totalmente contra organizar a cidade pra megaventos que, entre outras coisas, promovem a exclusão e uma série de ações anti-sociais. Farão o mesmo que fizeram com o Maracanã pra copa. Como carioca de Vila isabel, o Maracanã sempre ali do lado, agora virou uma arena que mais parece um shopping e que nada tem a ver com o torcedor de futebol."

Perguntaram-me se eu autorizava a exibição das imagens e eu disse que só se fosse na íntegra, com as críticas às olímpiadas e ao maracanã do Blatter, Marin e vírus anexos.

SRN


sábado, 21 de março de 2015

Como institucionalizar a discussão do papel da mídia?



A guerrilha de facebook fustiga, mas não organiza. A discussão crítica do papel da mídia tem de se institucionalizar. E o problema da institucionalização bate direto no Eduardo Cunha e no Renan Calheiros. Com um Congresso dos mais reacionários, como alcançar um espaço público de poder capaz de discutir criticamente o papel da mídia?

Outra coisa que também não ajuda é a contribuição da militância petista na ratificação de um terceiro turno. Refiro-me às respostas que dá. Cheguei a ler, ontem, numa postagem de um dos blogs da militância digital um contraponto entre a maravilha da ação do Ministério dos Esportes, pelo sucesso da organização da Copa, uns trocados gastos em face da corrupção pavorosa que o PSDB bancou na Petrobras.

É triste prum Rubro-Negro que vive com saudade do MARACANÃ, em caixa alta, e que vê o processo de afastamento popular das “arenas” de shopping em que se transformam os estádios - de que o maracanã, em caixa baixa, é o maior exemplo - e que contou com a colaboração do Ministério dos Esportes, ao lado de CBF, Blatter, Marin e vírus anexos, na organização de uma copa que não deveria ter sido feita nos termos em que vimos, independente do grande futebol praticado como há muito não vemos.

Um argumento de defesa como este desqualifica mais do que qualquer ataque tucano. Indispensável um espaço democrático para além do Fla x Flu. É preciso denunciar a situação de refém em que se encontra o governo. É o melhor do mundo tanto para a direita, que não precisa derrubá-la, quanto pros achacadores fisiológicos que arrancam o que puder em nome da "governabilidade". Ou alguém acredita que o negócio do Eduardo Cunha e do Renan Calheiros não é outro senão criar dificuldade pra vender caro a concessão adiante?

Na minha opinião, como qualquer outra, é a de que devemos lutar por um espaço crítico que não criminalize as divergências. Isso significa enfrentar os problemas com maturidade, o que, às vezes, dói.

SRN


A Boa Imprensa Liberal

Andam dizendo,em argumento de botequim fuleiro, que a prova da intolerância está no pedido de cassação da rede Globo. Quem diz isso, em geral, esteve no espetáculo do circo de horrores, de faixas padronizadas de norte a sul, de domingo passado, bajulando agente do dops. 
Independente do referencial teórico de que se utilize, a observação direta, empírica, demonstra que imprensa no capitalismo será sempre conservadora porque se trata de uma empresa, como outra qualquer. De que outro modo manter uma estrutura de um grande jornal, prédio, equipamentos, pessoal, passagens aéreas etc? 
Sabendo de tais limites, ainda assim - e essa é a luta que acho válida e possível - é tentar uma boa imprensa liberal, como a que me ocorre agora, de quando eu era jovem: o Jornal do Brasil era conservador, mas permitia amplo espaço ao contraditório, às propostas de esquerda, além de ter desempenhado um excelente papel na luta contra a censura a um ponto de não ter conseguido concessão de televisão que foi entregue ao Sílvio Santos. 
Já o Globo tem uma atuação deletéria histórica. Seus carros são virados desde o suicídio de Vargas. E o que esta organização empresarial fez na cobertura das Diretas Já, então nem se fala.Acreditou tanto no seu poder, à época no auge, que resolveu não dar notícia do primeiro grande comício em São Paulo em janeiro de 84, pois achava que se não desse, a realidade não existiria. Resultado: caiu do cavalo, ou melhor, teve seus carros virados pela população na rua. Não acho que devemos aliviar na luta pelo fim da concessão pública dessa empresa de interesses estritamente privados.

SRN


sexta-feira, 20 de março de 2015

História Oral, História Pública

Aos amigos que se interessam por história, segue abaixo um link sobre uma das metodologias (para alguns um campo historiográfico propriamente dito) que mais crescem hoje na historiografia, que é a História Oral. O professor Sebe, da USP, foi um dos pioneiros na matéria no Brasil e faz uma exposição bastante didática do assunto. Reparem, ao final, a importância da História Pública, sobretudo hoje.

SRN

https://youtu.be/rl8CDDXFmTE
Mas afinal, o que é História Oral? O professor José Carlos Sebe B. Meihy, autor de "História Oral: como fazer, como pensar" e "Guia Prática de Historia Oral"...
YOUTUBE.COM

Paulo Freire e as Faixas nada Ignorantes

"Democracia tem novo 15 de março" / edição de O Globo, 16/03/2015
As faixas padronizadas de norte a sul do país nada têm de ignorantes. Pensar assim não é a melhor forma de defender a importância de Paulo Freire. Insistir na produção crítica contra manchetes acima é muito mais relevante politicamente
“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” / Paulo Freire

SRN


62 Anos da Morte de Graciliano Ramos




Faz hoje 62 anos da morte de Graciliano Ramos (20/03/1953):



"As palavras não foram feitas pra luzir, brilhar feito ouro falso. As palavras foram feitas pra dizer."

Tenho a honra de ter o meu desenho do "Velho Graça" (meu desenho é o penúltimo) no sitio oficial do escritor da editora Record, ao lado de Grandes Artistas.


SRN


http://graciliano.com.br/site/vida/album-de-familia/

Vampiragem


quinta-feira, 19 de março de 2015

À Direita não interessa derrubar a Dilma



Alguns analistas sérios, de esquerda, dizem que os interesses em torno do capital financeiro e do agronegócio não precisam derrubar a Dilma, porque ela já os atende muito bem com Levy e Kátia Abreu. É do interesse deles, isso sim, manter essa situação, de crise permanente, para que a Dilma permaneça sempre refém, necessitando sempre agradá-los, pois, do contrário, poderá ser derrubada. Desse jeito, o governo não governará.

A ameaça de chantagem também dá sinais no PMDB, partido que já foi uma frente contra a ditadura, mas há muito não passa de um balcão fisiológico, igualmente interessado na manutenção do “sangramento” da Presidente pra poder extorqui-la ainda mais, como afirmou o Cid Gomes, que não é flor que se cheire e que, por isso, disse o que sabe que se pratica.  Os ardilosos Eduardo Cunha e Renan Calheiros conhecem essa linguagem.

Os tucanos também poderão tentar se aproveitar e insuflar a ambição do vice-vampiro para, depois, submetê-lo. Aí a estratégia exige a queda da presidente.

Cozinhando em fogo lento tudo isso, a mídia que não é determinante, não pode tudo, mas sabe tudo em matéria de oportunismo e pode muito em matéria de desestabilização.  

SRN


Relatório Traumann



Thomas Traumann, Ministro da Secretaria de Comunicação Social (SECOM), produziu um relatório político, porque se tornou público, e que nada tem de explosivo, como pretende a grande mídia.

O ponto central, pelo que se divulgou, demonstra justo o que pode fazer em matéria de desestabilização uma mídia golpista como a que temos:

“Em qualquer caos político, há sempre um que aponte ‘a culpa é da comunicação’. Desta vez, não há dúvidas de que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que isso.”

De fato, Levy e Kátia Abreu, além das MPs 664 e 665, de 30 de dezembro de 2014, imediatamente aceitas pelo ardiloso Renan Calheiros, que fragilizam o mundo do trabalho em contexto econômico difícil, não são justificáveis, mesmo com toda cantilena dos mantras clássicos: “acalmar o mercado” e “criar condições de governabilidade”.

“Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, como diria o outro. Agora, associar manifestações proto-fascistas, com pedidos de violações dos direitos civis, tortura, assassinatos e rancores psicanalíticos de classe média alta paulistana com “democracia tem novo 15 de março” não é o exercício “do pleno direito de informar”. O próprio tom da matéria sobre o relatório do Ministro da SECOM revela um esforço de forjar um Watergate fuleiro.  

Não se irá discutir nada com lucidez sem que se mexa, de imediato, no atual sistema de comunicações do país, justamente pra concordar com o Ministro de que “a crise é maior do que isso”.


SRN

Globufonaria agora é outra

“Democracia tem novo 15 de março”/ edição de O Globo de 16/03/2015

Enquanto se resume à bufonaria, é possível rir um pouco do que essa organização empresarial pensa do papel do intelectual. Mas, bandinha de playground de garoto mimado não abafa o barulho da confusão de que aproveita, estimulando, insuflando, legitimando com manchete que ornará qualquer futuro manual de golpismo midiático e que nivela um esforço histórico para por fim há 21 anos de ditadura, ainda que com graves restrições – Sarney, ACM, Marco Maciel etc – com manifestações explícitas de retrocesso.
 A manifestação de domingo não revela ignorância. A violência foi aprovada como método político: bonecos da Dilma e do Lula pendurados enforcados, coturnos, uniformes militares de guerra, faixas pedindo repressão e justificando a tortura, até uma ridícula figura, caquética e degradada, de agente do Dops subindo a um dos carros de som, ovacionado, para dizer de suas bravatas como torturador e assassino. 
E a “democracia tem novo 15 de março”.
SRN?

quarta-feira, 18 de março de 2015

Então, tudo é culpa da Globo?



Quem faz este tipo de pergunta não adianta se esconder atrás de um suposto distanciamento crítico, como se quisesse, de tão acima das paixões políticas em que se encontra, evitar a polarização atual. A lucidez que ilude serve justo pra contornar o que importa: a Globo aposta na confusão que decorre não apenas de um governo cuja estratégia não está bem explicada com levy e Kátia Abreu nem na falta de clareza igual em denunciar os grandes interesses envolvidos no sangramento da Petrobras, mas também do sentimento autoritário, histórico, de parte da sociedade brasileira, agora completamente exposto, sem escrúpulos, demonstrando como a ditadura era um produto social. 

O domingo passado deixou claro que amadurecer dói. Por isso, um marco regulatório que discipline essas organizações empresariais de comunicação faz parte desse amadurecimento.

SRN

“Democracia tem novo 15 de março”, edição de "O Globo", de 16/03/2015



Quem quer que tenha estudado História, ou seja um leitor atento e crítico, sabe que, em qualquer campo e sobre qualquer tema, há larga e complexa bibliografia que desautoriza toda afirmação categórica acerca da verdade absoluta ( o que nada tem a ver com relativismo ou com as teorias vindas da literatura, de um Hayden White, por exemplo, para quem a escrita do passado não passa de mais uma modalidade de criação literária). 

Certamente, em História, o que importa são perguntas relevantes, pois quaisquer respostas, além de disponíveis, aparentam verossimilhança. E daí o engodo, a manipulação, o farisaísmo. É desse tipo de aparência, portanto, de que se utilizam essas organizações empresariais de comunicação pra fazer a manchete acima. Indispensável um marco regulatório que as discipline e que, em seu lugar de mercadoria de bugigangas, ensejemos a construção de um espaço de produção crítica a um autoritarismo latente, histórico, sempre à espreita do golpismo.

SRN

"Esquecimento das Memórias": comentários sobre o texto de Denise Rollemberg



Denise Rollemberg é uma historiadora incômoda, o que já é recomendável. A primeira reação, impressiva, produz uma má vontade que vem mais da vontade de militante político do que a de um analista que se obriga a pensar com lucidez.

Começam as perguntas:

“Por que os militares voltaram aos quartéis clamando à sociedade o esquecimento? [ou seja, por que na disputa de memórias foram os vencidos que venceram?] Por que a sociedade que não se interessou pela luta armada hoje se interessa por conhecê-la? Será que os inúmeros depoimentos não foram capazes de formular questões essenciais? Seriam as perguntas por serem feitas que impulsionam a publicação de novos títulos?”

Denise pensa a centralidade da versão de Gabeira. Para Daniel Aarão Reis, segundo ela, a unanimidade de recepção se deve à “conciliação que encerra” e que é tributária à articulação que levaria, naquele mesmo ano de publicação do livro, “O que é isso companheiro?”, 1979, aos acordos políticos da Lei de Anistia.

A conciliação presente no livro de Gabeira remete, de imediato,  a uma das referências nos estudos da articulação entre História e Memória: “O que é isso companheiro?” viria, pois,  ao encontro da “organização do esquecimento”, proposto por Paul Ricoeur. Uma ilação inevitável da leitura do texto de Denise, uma vez que a pedra no passado evitaria a expiação pública de feridas então muito incômodas e constrangimentos bastante inconvenientes.

A descrição do quadro que induz a conclusão não é, entretanto, motivo de constrangimento. Para as esquerdas, a ditadura só se impunha pela repressão e,uma vez desmascarada, levaria as massas a aderir à luta armada para derrubá-la. Indispensável dar sentido à ação dos que morreram, foram presos, torturados. Os que sobreviveram têm esse dever, e a memória de referência não pode ser outra senão a que estipulara Halbwachs: a “memória coletiva”, comum, que “produz coesão social não pela coerção, mas pela adesão afetiva ao grupo, à comunidade afetiva”.

Tal quadro de memória da militância sofre um duro golpe quando surge a História oral, para à qual a memória coletiva é opressora e marginaliza a divergência, o excluído sem voz. “A História oral reabilita a periferia e a marginalidade acentuando o caráter destruidor, uniformizador e opressor da memória coletiva nacional.”

Paradoxalmente, a memória dos vencidos torna-se coletiva, homogeneizante, contra todas as demais, tanto as que existem no interior das próprias esquerdas, quanto as que circulam por todo o corpo social.

O que se viu, no domingo passado, porém, é que a memória vitimizante da sociedade não é assim tão unânime. A ditadura parecia absolvida, comprovando sua condição de produto social, com amplo apoio, e não o deslocamento de sentido de que a sociedade havia sido, exclusivamente, vítima, resistente.

O domingo que passou torna o livro do Gabeira mais do que datado. Demonstra como havia no interior da militância da luta armada vozes que “não participaram da construção da sua memória.” Segundo Denise, o público conheceu a história desconhecida da luta armada através de quem não a conheceu, devido a própria posição secundária do narrador, mas que, em seu livro, tudo e todos viram sombras, só ele é persoangem. E cita 
Serge Berstein:

“Na ordem da cultura política, é a lenda que é a realidade, pois é ela que é mobilizadora e determina a ação política concreta, à luz da representação que ela propõe.”

A sombra à que se reduziam personagens e situações era a substância literária que fez do livro de Gabeira o material, por excelência, da necessidade do esquecimento. Ou seja, o livro vale pelo que não mostra.

As perguntas que ainda estão por ser feitas – acredita Denise – não conseguem formulação por insistência numa determinada visão da sociedade. Repressão, manipulação, desinformação, ignorância. A sociedade sempre é vítima, na reiteração do cerne do argumento.

Uma das explicações que permanece é que a lógica da luta armada exigia, num primeiro momento, o trabalho clandestino de vanguarda “num quadro de intensa repressão”.

Talvez seja difícil, ainda hoje, tanto tempo decorrido do fim da ditadura, ver na população, mais do que a indiferença típica das maiorias, a aceitação e cumplicidade relativamente a um regime como produto social. Para além do desconhecimento, por mais que se explique, o problema continua, pois a compreensão exige outros enfoques, menos simplistas, certamente, desagradáveis. A começar pelo autoritarismo presente na sociedade brasileira. A manifestação de domingo não revela ignorância. A violência foi aprovada como método político: bonecos da Dilma e do Lula pendurados enforcados, coturnos, uniformes militares de guerra, faixas pedindo repressão e justificando a tortura, até uma ridícula figura, caquética e degradada, de agente do Dops subindo a um dos carros de som, ovacionado, para dizer de suas bravatas como torturador e assassino.

De que adianta, então, mexer no sistema de comunicação do país se o problema não se esgota na manipulação nem no controle midiático? Simplismo? Auto-engano recorrente?

Exatamente por tudo o que foi dito antes: a complexidade do problema se deve a sua multicausalidade, entre os quais o controle dos meios de comunicação por grupos de dominação históricos. Estabelecer um marco regulatório que discipline tamanhas organizações empresariais de comunicação é indispensável à construção de um espaço público de produção crítica a um autoritarismo latente, histórico, sempre à espreita do golpismo.

SRN

terça-feira, 17 de março de 2015

O Monstro Sagrado Peixe-Frito


Como a partir do Flamengo é possível se falar de tudo, da política à economia, passando até pelo futebol, uma lembrança muito especial do Maior artista que já ocupou a lateral direita de um campo de futebol (depois, como zagueiro, a artrose atrapalhando pra jogar na lateral, foi outro Monstro)

O que eu vi esse Monstro fazer com uma habilidade e categorias impressionantes no Maracanã (em letra maiúscula) integra qualquer antologia de Arte. Inesquecível o golaço num chute de fora da área, em 85, contra os tricolores: a bola bate no travessão, nas costas do Paulo Vítor (havia um nas Laranjeiras, à época) e entra. Uma época em que o campeonato carioca ainda valia alguma coisa. 

Parabéns, Leandro, Peixe-Frito

SRN


segunda-feira, 16 de março de 2015

Paulo Freire e o Obscurantismo Midiático

O campeonato de besteiras, verificado nas faixas e cartazes bem confeccionados de ontem, surpreende a cada imagem divulgada. Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, teria  material disponível prum ano inteiro de Febeapá. Mas, não há graça capaz de dar conta da vilania dessas organizações empresariais de comunicação.

Os ataques a Paulo Freire, expressão maior do obscurantismo de ontem, servem ao menos para que o seu nome e obra alcancem o senso comum dos que, de boa fé, acabaram instrumentalizados nesse domingo.

A crítica à educação bancária que propunha era contra a condição de receptáculo à que se reduzia o aluno sentado num banco recebendo acriticamente toda a sorte de conteúdo quase sempre desligado de sua própria realidade de vida. O que interessa se o vovô viu a uva, se não temos avô nem nunca comemos uva?

Paulo Freire, sem que esses incautos soubessem, retorna com uma oportunidade capaz de lhes expor a ignorância, como o registro que fazia separando a tolerância com a diferença do combate firme ao antagônico que exclui, aparta e elimina, autoritariamente.

Temos de ter tolerância com os pobres mentais instrumentalizados, mas não dá pra ser mais leniente com os que conceberam e orientaram a produção das faixas e cartazes, cuja intenção é fabricar e acirrar crises, semeando a insegurança, para lucros golpistas.

Uma das fontes desses cartazes está justo nessas organizações empresariais de comunicação, capazes de manchetes como esta:

“Democracia tem novo 15 de março”

SRN




Democracia pra quem, Cara-Pálida?

Reparem a malandragem do título da matéria principal de capa:

"Democracia tem novo 15 de março"

Comparar a esperança de 30 anos atrás com manifestações que pedem a volta da ditadura e intervenção militar não é o exercício do "honesto ato de informar". É tentativa sub-reptícia de tentar fabricar um clima em que o que é legítimo é a ruptura, a desestabilização institucional, a virada de mesa.

Impossível não mexer nesse troço, sob a capa de "liberdade de imprensa".


SRN


Basta Olhar pra Argentina, que Entendeu Ricoeur

A “organização do esquecimento’, do filósofo Paul Ricoeur, trata justamente de sociedades com passado traumático mal resolvido. Consiste em colocar uma pedra sobre o passado, com a vida seguindo sem o ajuste de contas que só pode vir da expiação pública, de que a imagem do luto é a representação adequada. O luto pela morte funde as duas dimensões da dor, individual e coletiva.

A lei da Anistia, de 79, se foi o melhor possível ontem, hoje é uma mortalha puída sobre as pernas de um cadáver insepulto deixado à cadeira de balanço com a televisão ligada.

O que vimos ontem,, ao contrário do temor que aparenta, é a prova de que há em certos segmentos sociais a ditadura absolvida – o que comprova também sua condição de produto social, com amplo apoio, e não o deslocamento de sentido de que a sociedade havia sido exclusivamente vítima, resistente.

Novamente, o papel do espaço midiático em que esse ajuste terá de ser feito. E, certamente, não será com o atual sistema de comunicação que conseguiremos nos aproximar dos nossos vizinhos argentinos que botaram Videla na cadeia pelos crimes hediondos cometidos contra o seu povo. Os argentinos não botaram uma pedra no passado, pois perceberam o risco de Videla virar herói nacional, campeão do Mundo em 78.

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Havia conteúdo de classe nas manifestações ontem?

Penso que não é esta a pergunta a ser feita. E a história comparada com 64 vale pela diacronia, pelos elementos que atravessam o tempo, adaptando-se. O que havia ontem e que não temos hoje – e que faz muita diferença – é a Guerra Fria. Em 64, havia uma premissa maior que, em seu auge, fazia o resto parecer mero desdobramento.

Não temos problemas na área militar, à época completamente radicalizada contra o ‘inimigo interno vermelho”, hoje, amadurecida, tranquila, profissional e constitucional.

Não temos também uma mobilização de caráter trabalhista por reformas de base. Ao contrário, quem mais mobiliza hoje é alguma coisa análoga à “Marcha com Deus pela Família e Propriedade”.

Outro elemento semelhante, diacrônico, são as organizações empresariais de comunicação que fazem agora um papel semelhante ao dos institutos IPES e IBAD, comando orgânico dos golpistas, em 64.

Indispensável, portanto, repetir como um mantra: a principal luta hoje é disciplinar, sob marco regulatório, a atuação dessas organizações empresariais de comunicação.


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