A
“organização do esquecimento’, do filósofo Paul Ricoeur, trata justamente de
sociedades com passado traumático mal resolvido. Consiste em colocar uma pedra
sobre o passado, com a vida seguindo sem o ajuste de contas que só pode vir da
expiação pública, de que a imagem do luto é a representação adequada. O luto
pela morte funde as duas dimensões da dor, individual e coletiva.
A
lei da Anistia, de 79, se foi o melhor possível ontem, hoje é uma mortalha
puída sobre as pernas de um cadáver insepulto deixado à cadeira de balanço com
a televisão ligada.
O
que vimos ontem,, ao contrário do temor que aparenta, é a prova de que há em
certos segmentos sociais a ditadura absolvida – o que comprova também sua
condição de produto social, com amplo apoio, e não o deslocamento de sentido de
que a sociedade havia sido exclusivamente vítima, resistente.
Novamente,
o papel do espaço midiático em que esse ajuste terá de ser feito. E,
certamente, não será com o atual sistema de comunicação que conseguiremos nos
aproximar dos nossos vizinhos argentinos que botaram Videla na cadeia pelos
crimes hediondos cometidos contra o seu povo. Os argentinos não botaram uma pedra no passado, pois perceberam o risco de Videla virar herói nacional,
campeão do Mundo em 78.
SRN
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