segunda-feira, 16 de março de 2015

Basta Olhar pra Argentina, que Entendeu Ricoeur

A “organização do esquecimento’, do filósofo Paul Ricoeur, trata justamente de sociedades com passado traumático mal resolvido. Consiste em colocar uma pedra sobre o passado, com a vida seguindo sem o ajuste de contas que só pode vir da expiação pública, de que a imagem do luto é a representação adequada. O luto pela morte funde as duas dimensões da dor, individual e coletiva.

A lei da Anistia, de 79, se foi o melhor possível ontem, hoje é uma mortalha puída sobre as pernas de um cadáver insepulto deixado à cadeira de balanço com a televisão ligada.

O que vimos ontem,, ao contrário do temor que aparenta, é a prova de que há em certos segmentos sociais a ditadura absolvida – o que comprova também sua condição de produto social, com amplo apoio, e não o deslocamento de sentido de que a sociedade havia sido exclusivamente vítima, resistente.

Novamente, o papel do espaço midiático em que esse ajuste terá de ser feito. E, certamente, não será com o atual sistema de comunicação que conseguiremos nos aproximar dos nossos vizinhos argentinos que botaram Videla na cadeia pelos crimes hediondos cometidos contra o seu povo. Os argentinos não botaram uma pedra no passado, pois perceberam o risco de Videla virar herói nacional, campeão do Mundo em 78.

SRN




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