domingo, 8 de março de 2015

Cartunismo iconoclasta?

A charge de hoje de Chico Caruso não é abjeta apenas pelo truísmo da inadequação. Esclarece expondo a falácia do suposto cartunismo iconoclasta, como se bastasse empunhar uma caneta nanquim pra ter o monopólio da pureza incondicional. O Charlie Hebdo foi outro dia, e quem buscasse tentar entender o que ocorreu era logo tachado de cúmplice de assassinos. Afinal, não há cartunista de conjunção adversativa. Não é preciso nem recorrer a fumaças de materialismo, bastando apenas ter passado da adolescência, pra saber que não se vive fora da vida, com todas as contradições e condicionalidades que impõe, cabendo o esforço de viver de acordo, ou o mais próximo possível, daquilo em que se acredita, diante o tempo inteiro do confronto com toda sorte de concessões.

É óbvio que nada do que vem do Globo merece sequer respeito. A estratégia de derrubar o governo é notória e todos os seus funcionários, cartunistas iconoclastas libertários ou não, são ordenados a obedecer as instruções do patrão.

Do outro lado, há os tarefeiros do PT, para os quais qualquer crítica é atacada logo como “vendida à direita”. Ou seja, quem não se convence do que representam Levy e Kátia Abreu, embora acredite no avanço que significa a continuidade do governo Dilma, não pode sequer pedir explicações, tentar entender. E hoje, mais uma vez, a Presidente perdeu a oportunidade. De fato, a Dilma não sabe se comunicar, dizer com clareza. Em linhas gerais, quis dizer que a estratégia usada por Lula no combate à crise de 2008, recusando a austeridade e estagnação, agora já não é mais viável, exigindo medidas de outra natureza, próximas ao receituário liberal. Mas, se todos os fundamentos estão sólidos, tributários à herança de Lula, por que, então, mudar a estratégia? É uma dúvida sincera de muitos que torcem pelo avanço social que o seu governo representa contra panelaços ressentidos, lobos idiotas e cartunistas libertários iconoclastas que só batem naquilo que o patrão manda bater.

SRN




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