28 - Tadeu, vim até aqui só por consideração. Mas, vou ser franco: não vi o jogo de anteontem nem li nada a respeito.A alienação só não é maior porque a licença do trabalho acabou e eu não sou surdo. Mais interessante foi a relação que você fez no e-mail que mandou pro Máximo do Chaves e o Dunga. Meu camarada, discordo. A relação mais justa, pra mim, é entre Dunga e o Pinochet. Não tem a ver?
Tadeu - Um pensador, perguntado a respeito das diferenças que extremavam os políticos de direita e esquerda quando estavam no poder, respondeu:
-Nenhuma. Fazem ambos a mesma coisa. A única diferença é que o de esquerda lamenta muito.
Talvez não seja exagero elastecer o raciocínio e utilizá-lo na análise de ditaduras. O que extrema Chávez um pretenso ditador de esquerda (não é essa a minha opinião) de Pinochet um ditador de direita? O regime capitaneado por Chávez é do tipo totalitário ou autoritário? E o de Pinochet? Se não é possível estabelecer substancialmente as diferenças quando a investidura no poder se dá pelas vias institucionais, por que o seria quando a "investidura" se dá por vias transversas?
Os ditos ditadores de esquerda são estatizantes; os de direita privilegiam a iniciativa privada. As diferenças não param por aí e não ficarei aqui a arrolá-las.
Em comum, há o constante recurso à tortura, à censura da imprensa e, claro, à infalibilidade.
Cada um à sua maneira, promete a redenção do homem.
O que privilegia o capital findará por decretar o fim da história (Francis Fukuyama) e solenemente ignorará os suicídios cometidos por chineses desesperançados. Aos que demonizam o capital resta explicar os milhões de mortos produzidos ao longo do século XX. Já procurei e não achei, acudam-me por favor, em que parte do capital está a previsão dos expurgos, dos gulags e do silêncio do oponente à qualquer custo. A ditadura de Stalin é sinônima da tal ditadura do proletariado de que nos falava Marx?
Independentemente do ditador e da péssima ideia que ele represente o efeito prático é o mesmo: imposição de suas máximas e silêncio aos que ousam divergir.
28 - A respeito da divergência em Nação Maior, à que o Máximo se refere, tiro a lição do antigo Pasquim. O humor tem de ser iconoclasta. Não pode ter compromisso com nada nem ninguém. Deve tornar evidente o que há de ridículo em tudo. Humor a favor não existe, razão pela qual o Jaguar, cujo traço é o que há de melhor, um desenho escrito, soçobrou na agonia do Pasquim quando, ajudado pelo Brizola, que estava sem imprensa, este resolveu abrir os cofres do Banerj e bancar o Pasquim. O jornal virou um panfleto pedetista. E foi o que se viu. Você se lembra?
Tadeu - Sim, lembro-me bem. Creio, porém, na inteira impossibilidade da tal ausência de compromisso. Há apenas um discurso sobre a imparcialidade e a neutralidade. Preferir uma ditadura à outra é, claro, um opção, um comprometimento (conceito em voga). Quando o assunto é ditadura, prefiro a de Pinochet pela simples razão de já haver acabado. É passado. A representatividade política nos infantiliza, mas as ditadura nos devolvem ao útero. Como são risíveis as ditaduras e como são ridículos os ditadores, não?
Aquelas que são rotuladas de esquerda são as mais paradoxais. São feitas em nome do povo e de início calam a chamada imprensa privada, que são úteis apenas aos donos dos meios de comunicação. A seguir calam aqueles que se deixaram contaminar por aquela finada imprensa privada, percebem depois que o contingente de contaminados é maior do que pensavam. As coisas prosseguem, o tempo passa e nossos "indômitos" revolucionários percebem que são minoria. Fazer o quê? Azar dessa maioria que não conseguiu ainda atinar para a grandeza dos seus propósitos. O passo seguinte se faz acompanhar de expurgos e gulags.
Já disse alguém que não há arcabouço teórico, por mais grandioso que nos pareça num primeiro momento, que não ceda ante a força dos fatos. O século XX foi rico em revoluções. Acaso alguma tenha seguido um itinerário diverso do que acabou de ser descrito, me avise. Ando louco pra atirar ao lixo meu ceticismo e me engajar numa luta pela redenção do ser humano.
28 - Vivemos, é fato, no pior dos mundos: Dunga de Macedo x engradados da imprensa. Aproveitar o Dunga pra fazer a crítica que essa imprensa merece, dizer que o diácono do Jorginho está correto em acabar com o privilégio da globo, não lhe dando exclusivas nem abrindo pra pastelaria do Galvão, seria legitimar um espírito de AI-5 que já sabemos não ser a solução. Antigamente, a censura levava a que os jornais botassem na primeira página receita de bolo, novenas, num aviso implícito do que estava ocorrendo. Hoje, certamente, botariam o retrato do Telê, seguido da escalação da melhor seleção de todos os tempos que foi a de 82 e ganhariam um apoio popular que incineraria, de uma vez, o bordão : "o povo não é bobo abaixo a rede globo." Sem chance, como diria o Máximo. Ou como diziam os mais antigos, muito mais do que eu e o Máximo, os nossos ancestrais originários, vítimas de Cortez e Pizarro: estamos "entre a cruz e a espada". O que prefere, meu irmão? Ou é melhor o suicídio como faziam nossos irmãos de Potosi, como nos conta Eduardo Galeano, em "As veias Abertas da América Latina"?
Tadeu - Dunga, sem dúvida, foi muito democrático em meio à sua histeria totalitária. A todos deu a mesma coisa, ou seja, nada. Nesses momentos em que há um vácuo de informação e a massa do pastel fica escassa, percebemos que espaço deveria ser preenchido com uma boa dose de criatividade. Que nada! Todos os recursos tecnológicos, conforto material e aquele amontoado de dados inservíveis findaram por dar cabo ao bom jornalismo. Aquele do tipo que que tirava água de pedra, que era investigativo, profundo e debochado. Você e Máximo estão certíssimos, a gordura que frita esse pastel está pra lá de saturada.
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