quarta-feira, 30 de junho de 2010

Espinha

Por tadeu dos Santos

Nesses tempos em que há um discurso uníssono a justificar o jeito correto de se jogar futebol, o contraponto apresentado pela Espanha é extremamente salutar. Yes! Nós temos a Espanha.

Apostam na própria virtude e jogam com a bola. É, pois, a antítese desse jogo em que todas as fichas são depositadas no erro do adversário. Abolimos o meia. Enquanto isso a Espanha apresenta meias e volantes que nos confundem. Todos parecem meias. Todos tratam a bola com enorme carinho e ela, como sempre, retribui aos afagos. Parece aquela vetusta brincadeira que em nossos tempos de criança chamava burrinho. Nos tempos que vivemos recebeu a designação de roda de bobo. Quiçá nesses bicudos tempos em que está a vigorar a tônica do politicamente correto, bobo soe menos deletério do que burro.

Retomando.

Quando o adversário chega, a bola já se foi. E vai de uma lateral à outra, de pé em pé. Não há chutões nem mesmo do goleiro no momento da reposição da bola em jogo.

Vejo tudo isso e me vem à mente o time do Flamengo. Era assim que o time que ganhou tudo jogava. A seleção brasileira de 1982 também jogava assim.

A presença da seleção espanhola é, sem dúvida, uma grande espinha a atravessar a garganta daqueles que pugnam pelo futebol-resultado e o mais grave: estabelecem a associação futebol-resultado/modernidade.

O totalitário-mor afirma sempre que pode que a extrema escassez de espaço e a preparação física aboliram pra todo o sempre aquele futebol que os saudosista insistem em reviver. Hoje vi o talento reinventando o espaço.

Já disse antes. Vou reafirmar: por mais sólido que seja o arcabouço teórico, um simples fato tem poder suficiente para pô-lo abaixo. Os noventa e poucos minutos de Espanha x Portugal representam a derrocada da teoria que tem por pretensão universalizar o jeito alemão de se jogar futebol.

Ah! Quase esquecia. Cristiano Ronaldo tem o poder de me remeter àqueles lindos embrulhos de presente. Papel verde, laçarote vermelho. Por dentro, à semelhança das bonecas russas, há uma caixa dentro da outra e asim sucessivamente. Ao fim, uma caixa pequenina e dentro dela um indisfarçável vácuo. O mais grave nisso tudo é que ele joga mais do que o Kaká, "nosso" craque na Copa.

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