Ontem, em o "Papo de Copa", a resposta que dá ao 28, na qual traça a distinção entre arte e técnica é admirável. Exige desenvolvimento, aponta para um ensaio que esmiuçe, para campos distintos, as caracteristicas de progresso, tributário ao ideal iluminista, típico do cientificismo dos dezenove ( período do auge, pela novidade, da crença no absoluto cientifíco), ao passo que os traços da arte me lembram um livro que li há muito, escrito pelo Ferreira Gullar: "Argumentação contra a Morte da Arte".
A clareza precisa de Gullar, em quem as palavras ajudam e não atrapalham, a exemplo do que pregava Graciliano Ramos. De fato, em Gullar, as palavras “não brilham feito ouro falso”, estão ali à disposição e são usadas para dizer que seria um desastre, se suspendêssemos o humor e concordássemos com Mondrian, em ver nos seus "quadrados", particularmente em "Victory Boogie-Woogie", a conclusão de um processo artístico de séculos no desenrolar de artistas como Da Vinci, Rafael, Monet, Picasso.
Disse o que você respondeu ontem ao 28: as seleções campeãs, Alemanha, Itália e, mesmo, o Brasil de 94, submeter-se-iam , no máximo, ao campo técnico.
Arte, A GRANDE ARTE (assim mesmo, em caixa alta), decerto, a de 82.
Já que falei em Telê, lembrei-me de um ditado popular:
“Quem não sabe contra quem luta, jamais poderá vencer.”
Dunga ou a globo?
Para o Brasil, não há termos de comparação. A globo, desde a sua constituição ilegal, encerra uma história deletéria, na superestrutura conveniente por onde escoa nossa dependência estrutural. Sua vassalagem à ditadura, a ambiguidade na apuração da bomba do Riocentro, seu silêncio às Diretas Já, até ter seus carros virados e, na candelária, em 84, naquele Comício de Redenção:
“O povo não é bobo, abaixo a rede globo.”
Não há dúvida de que me dá engulho a emproação ofendida de freira de prostíbulo – ou há melhor maneira de dizer o que os engradados da globo divulgam ante à “pátria de chuteiras” ofendida por Dunga?
O problema é que, embora menor, quase insignificante, um erro de revisão da história do futebol brasileiro, Dunga de Macedo também pratica a sua forma de entreguismo com um futebol que nada tem do ramo mais amado de nossa cultura popular. Um futebol, ao invés de brasileiro, alemão.
Dunga de Macedo, o diácono de Jorginho, este, mesmo, aquele que queria mudar o símbolo do América, o nosso Mequinha, segundo time de todo Rubro-Negro ( a única concessão de segundo time que faz todo Rubro-negro de time único, seja aonde for). Queria mudar, porque o diabo era um atentado contra uma dessas lojas recentemente abertas para a mercadoria da fé.
Sem chance.
SRN
Máximo
Convém não esquecer que a burrice precisa do consenso pra poder se reproduzir a contento.
Numa de suas raras intervenções no programa Band Mania, o ex-volante Emerson afirmou que não titubearia em dar uns bons cutucões no braço recém-quebrado de Drogba. Essas e outras pérolas do gênero são repetidas à farta em meio à equipe que a Bandeirantes reuniu pra “comentar a Copa”. Denílson tem um quadro em que manda beijinhos pra conhecidos. Quando não está a exercer a função de beijoqueiro da vez, o ex-atacante lança demoradas loas à sua esposa. Ao que tudo indica, a grande conquista de sua carreira foi a obtenção do cargo de cunhado do Zezé Di Camargo. E são tantas as declarações de amor... Vampeta, o tal do “Flamengo finge que paga e eu finjo que jogo”. Não é poeta, claro, mas é dado a fingimentos e outras indiscrições do gênero. São recorrentes os elogios à sua paixão etílica, tipo “bebo até de graça, imagine quando sou campeão do mundo”.
O comandante daquela “sessão” de debates atende pelo nome de Milton Neves. Uma de suas funções é sacar de uma ampulheta sempre que alguém se atreve a fazer uma pergunta pertinente, algo inteiramente inadmissível em meio àquela insana disputa de egos. Não consegue sequer impor uma regra elementar quando o assunto é debate, ou seja, que um dê ao outro a oportunidade de falar.
Vuvuzelas são tocadas e inconfidências de ex e atuais jogadores são veiculadas à farta.
E ainda tem o Neto. Sim! Há o Neto. Ele é prolixo na produção de elogios. Todos são craques. Todos são gênios. Quando utilizadas sem o devido comedimento a palavra se esgarça, daí começa a não reunir força suficiente à produção de uma ideia. Ao fim e ao cabo, ela se faz nada. Faz-se vazia. Não qualifica e tampouco altera a realidade. Se afirmo que Kaká é craque devo buscar outra palavra pra qualificar o Rivelino. Se insisto no erro e afirmo que Rivelino é gênio haverei de me investir na função de inventor e buscar o qualificativo que definirá Pelé. Mas Neto não é jornalista, é só mais um dos muitos torcedores enviados à “cobertura do evento”.
Há também a troca recíproca de elogios. Neto, por exemplo, foi erigido à categoria de melhor comentarista da televisão. Luciano do Valle é o melhor grito de gol que existe. O mais grave e estarrecedor é que eles acreditam.
Neto é um felizardo. Recebeu de bandeja uma vaga entre os 11 melhores camisas 10 de todos os tempos. no livro de Marcelo Barreto, jornalista do Sportv. Agora é o melhor comentarista da televisão brasileira. O que mais virá?
Aqui, ao contrário da “cobertura” da Globo não há o sacrifício da verdade em prol da adesão popular. Nada disso, há aqui apenas um enorme vazio. Não há verdades e tampouco mentiras. Não há fatos, não há análises, mas apenas grunhidos que disputam um mínimo de atenção das câmeras. O futebol se foi, mas ficou a necessidade dos holofotes. Assemelham-se àquelas musas decadentes e carregadas de maquiagem. São as sequelas dos efeitos nefastos que o futebol vive a produzir.
Mas na Globo é diferente. Nestes sítios o futebol é puro glamour. E o glamour, não duvidem, é obtido com vitórias. Custe o que custar, há sempre por ali alguém disposto a pagar o preço. Em meio ao caso do “CALA BOCA GALVÃO” veiculado no twitter o “jornalista” afirmou categoricamente que sim, é um narrador-torcedor. Em outras oportunidades já havíamos afirmado que todos os “profissionais” da Globo presentes à África do Sul eram torcedores e que não havia por ali um que dignificasse a profissão de “jornalista”.
Foge ao âmbito do presente texto discutir os limites da chamada isenção jornalística, mas me assusta a passividade da imprensa diante de um profissional que cria óbices intransponíveis ao desempenho de sua função maior, ou seja, informar.
Tudo parece se justificar quando a contraprestação é a tão decantada vitória. Sinto que nos deixamos contaminar pela mania americana vazada no “elogio ao êxito”. Perder é feio, é coisa de losers.
Em meio a tantos “jornalistas-torcedores”, nós, os “torcedores-torcedores” ficamos a ver navios. Os fatos já vêm distorcido, contaminados que estão pela paixão interesseira, pelo amor aos grandes negócios.
Preocupa-me a maneira como um comando vazado no mais desabrido autoritarismo é aceito com tanta condescendência. Júlio Cesar, o goleiro, já afirmou que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Nossa tradição autoritária se espraiou até mesmo àqueles que cronologicamente não sofreram seus efeitos diretos.
A Copa é coisa dos “jornalistas-torcedores” e do Ditador e seus comandados. À primeira cabia fazer a ponte, ligar, a seleção ao povo. Divorciamo-nos, mas a vitória nos reconciliará. Vês? É simples.
É triste o jornalismo feito à base de cartilhas. São dóceis os “profissionais” que se dispõe à repetição de mantras. São acríticos. São Galvões, Casagrandes, Falcões, Coelhos e outros do gênero. Na outra ponta estão os consumidores. As doses ministradas de 4 em 4 anos, tornaram-nos ávidos pela glória. Somos agora movidos por vitórias e propaganda de celulares e cerveja.
Em meio à Copa do Mundo morreu José Saramago. Veja dedicou-lhe meia página. Ao fim da matéria veio a crítica à sua conhecida posição política. E lá estava a explícita condenação à amizade que mantinha com Fidel e Chavez.
Foram tímidos os comentários ao essencial que é, indubitavelmente, a literatura de Saramago.
Philip Roth, o maior escritor americano vivo, condenou em “O Fantasma sai de Cena” a mania consistente em confundir a vida particular do escritor com sua produção literária. Veja, claro, passou batida pelo ensinamento. Também em relação ao Niemeyer adotou-se o mesmo padrão. Toda a sua importância artística foi lançada ao limbo. O que contava era condenar sua explícita adesão ao socialismo.Ali não se faz jornalismo. Exerce-se, apenas e tão somente, um desavergonhado patrulhamento ideológico.
Em meio a tudo isso, sucumbiram o futebol bem jogado, o toque de calcanhar, a trivela, o lençol, o drible de corpo. Ficou apenas aquilo que tão bem se dá aos olhos dos cegos, a saber, o resultado, a estatística e o levantar o troféu em meio à chuva de papel picado.
Mas não há de ser nada. Logo virão as eliminações. Alguns “jornalistas” serão mandados de volta e eles entrevistarão uns aos outros. E nós riremos. Sim, o riso é a parte que nos coube nesse latifúndio.
Tadeu dos Santos
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