Ontem à noite, saindo da UERJ, o "jaleco" ainda aberto, falei pra Sandra:
"Vamos tomar uma água".
O frio é o seguinte. Atrapalha o raciocínio com o vento correndo a Francisco Xavier e tirando a vontade de permanecer ali na calçada. Levantamos e a Sandra ainda me disse:
"Lá na escola estão gostando. Tenho colegas que não são de futebol, mas acessam o blog. A Marta, de literatura, professora bem mais antiga, diz que tem um viés literário interessante e um humor carioca perdido."
A Sandra é suspeita. Pior ainda, é o meu cabotinismo de reproduzir elogio. Mas, como faz diferença. Basta vê-la, que até a linguagem melhora. "Cabotinismo". Seguinte:
Hoje vou procurar o 28, passar ali na Teodoro, daqui há pouco, às 8:30, e ver se o vejo no ponto do 232. Em meio à chorumela e pernosticismo, agora que os engradados que ficaram aqui vão fazer a festa lá na Gávea - ou, convenhamos, falar o quê do time do Dunga de Macedo? É muito melhor anunciar a ressurreição e contratação do Rinus Michels, que as obras de construção de um CT no Flamengo vão começar, sem o qual, de resto, não se faz mais "futebol de alto nível" e que, tal a Grandeza Rubro-negra, este novo CT terá uma ponte ligando o Rio direto à África, elevando-se ligeiramente no centro, bem no meio do Atlântico, devido à passagem de petroleiros e embarcações de grande calado, à semelhança mais ou menos do que fizeram aqui na nossa ponte pra Niterói (a justificativa é que o futuro da escolinha rubro-negra precisa ter presença direta no berço do futuro do futebol) - é o tal negócio: deixarei este blog em boas mãos. A começar pelas publicações de hoje, com textos de Tadeu dos Santos (certamente o "viés literário" a que se referira a colega da Sandra). O primeiro logo a seguir é literatura, de fato, sem mistura. . O outro, também é, noutra postagem: Almir
SRN
Texto Antigo
Por Tadeu dos santos
O dia amanhece. O sol parece indeciso, mas ao final, tal e qual a stripper, vai de pouco em pouco se mostrando. Por volta das 9:00 horas já Manchas de suor salpicam aqui e ali o uniforme laranja de Madash.Uma algema é-lhe atirada ao pulso e um homem de farda reluzente diz sem se dar ao trabalho de olhá-lo, vem.
É Guantanamo, sudeste de Cuba. Madash fala árabe e o seu"interlocutor" inglês. Há um homem que diz a um e outro em seus modos de falar o que antes dissera o outro. No entanto, as perguntas de hoje são as de ontem apenas um pouco mais envelhecidas. O choque elétrico, as bofetadas, os sons excruciantes e as ameaças também se darão, vez mais, ao conhecer do sol.
Madash sempre pensa na ironia da tortura partir de um homem nascido no país que tanto privilegia as fontes. Tão importante quanto o diálogo é o sagrado direito ao ensimesmar. Ao fechar-se em si. Ao nada dizer. Ao tudo calar. Veja a eloquência de meu silêncio. Sou tímido e ainda assim insisto em ajudá-lo. Mais um tempo nesse infindável pergunta e me calo e serás dado a clarividências. Alá protegeu o direito ao segredo, tirando do outro o dom da clarividência. Não é assim? Pois se não é, deveria sê-lo.
Já se põe-se o sol a deitar. Madash está cansado e o homem de farda também.
- Quem estava no avião? Quem planejou?
O olhar perde seu ar inquisidor e se enche da cor da súplica. Madash vira-se e como se estivesse a homenagear o povo que habita a terra da tortura, responde em espanhol:
- Guardas bien un segredo?
E o outro, ávido por agradar:
- Si, si, si...
E Madash:
- Me too, my friend, me too.
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