Aceitei o convite do Máximo. Tento escrever como falo. Quando dá, maravilha. Quando não, pavoroso.
Agora mesmo acabo de ganhar da Bete um par de chinelos oficial do Flamengo. As pontas dos dedos pretas pela pelada que joguei com um tênis apertado. O diabetes não faz graça. Eu que fiz. De palhaçada, esqueci que o tempo passa e a idade chegou. Certo, cadeira de balanço é o cacete. Mas, coroa trêfego, igual àquele tio do guaraná antártica, que que há. Mas, aqui não é a Desembargador Isidro nem o Pedro Ernesto, que, aliás, está sem emergência.
O texto sai desse jeito porque feito em pé, dentro do 232, um cuidado excessivo com os pés no chinelo. Da memória saltavam a cada ponto palavras e conexões que sustentariam melhor as ideias entre um quase pisão pelo ônibus que lotava e a menina a minha frente que, gentil, viu o meu aperto, levantou-se e me cedeu o lugar.
Minha atenção se fixa no jornal do camarada ao lado, no banco. "Mandiva" alguma coisa. Do que deu pra ler "Mandiva" é como Mandela é conhecido na África do Sul.
Concordo com o Máximo: perder tempo com o time do Dunga de Macedo é coisa da pastelaria do Galvão Bueno.
Também vou ver se o Máximo me empresta os livros sobre o CNA que disse que irá peneirar nas livrarias.
A grana tá curta.
É só o começo, meus camaradas.
Segue aí Tadeu. Destila aquela literatura de rótulo preto escocês.
Ao vencedor as batatas
Por Tadeu dos Santos
A Copa de 94 acabou e ficamos a esperar que algum nobre dignitário da CBF viesse a público confirmar o que já sabíamos todos:
- Viemos pra cá com dois bons laterais (Leonardo e Jorginho), dois especialistas em desarme (Mauro Silva e Dunga), dois meias funcionais (Raí e Zinho) e uma excepcional dupla de atacantes (Romário e Bebeto). O destino, porém, fez com que Leonardo se travestisse em pugilista, Raí fosse abduzido e Zinho enveredasse pelos desvios da tautologia. Capenga por um dos flancos e sem nada que satisfatoriamente alimentasse o ataque, nos entregamos a um ou outro cruzamento e a arrancadas salvadoras. Isso tudo, todavia, nada tem a ver com a história que ao longo do tempo construímos. Ainda assim somos tão bons que mesmo jogando à europeia conseguimos a vitória. Mas não se iludam tudo isso foi uma mera contingência. Repito, nós não somos isso.
O tempo passou e verificamos que a expressão Era-Dunga viera pra ficar. Ao vencedor as batatas e mais do que isso, o privilégio de recontar a história com vistas a tornar sua visão do futebol aceitável e mais do que isso, única.
Tem-se assim que futebol bom é aquele que não corre risco. Futebol não é jogo, é negócio. Futebol bonito é passado que não volta mais, futebol-arte é conceito corroído pelo tempo, é arcaico. O que importa é o ranking da Fifa, é a valorização de nossos atletas no competitivo mercado internacional. Repetindo: futebol é negócio, jogador é mercadoria e o que conta é ficar bem na estatística. Essa é a posição-estepe para a ocorrência de eventuais insucessos.
Fica combinado: Se perder toma o xarope Era-Dunga. E nada de reclamações.
Essa verdade inconveniente norteia o modus operandi da CBF (e seus contratos milionários), bem como o silêncio acrítico de setores poderosos de nossa imprensa. Tudo isso, contudo, é pra consumo interno. Para o grande público finge-se encantamento diante de Ronaldinho Gaúcho, Neymar, Ganso e outros do tipo. Eles, porém, não são bons para a segurança do negócio.
Coube ao Dunga dar nome a este infeliz imbróglio, mas não é só. Dunga também se fez porta-voz. É ele o que toma dos microfones e nos diz que tudo aquilo não é meramente contingente, mas definitivo. Que o novo futebol brasileiro de exportação consiste no binômio defesa/erro do adversário. Dunga matou a beleza, olvidando-se inteiramente que pra nós, meros torcedores, o futebol é apenas isso e não é pouco.
É esse o novo conceito a que se pretende atrelar o futebol brasileiro. Triste, não? Tal e qual Prometeu, resistiremos.
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