domingo, 27 de junho de 2010

Proibir não é preciso



POR Tadeu dos Santos


( o título desta postagem, "Proibir não é preciso", foi baseado no clássico poema de Fernando Pessoa, "Navegar é preciso / Viver não é preciso" )


A proibição da concessão de entrevista trouxe em seu bojo uma saraivada de boatos. Já disseram que Dunga bateu de frente com Fátima Bernardes (no sentido figurativo, claro), que Kaká e Felippe Melo se estranharam, que Júlio Batista e Daniel Alves trocaram farpas e a última: que Robinho ficou barrado por ter dado entrevista a um jornalista-torcedor rival da emissora do Plim-Plim.

Ausentes os fatos e logo entregamo-nos avidamente às versões. Perfunctória olhada para as versões que por aí andam a circular e a conclusão que se impõe é que a falta de criatividade não está restrita apenas ao time do Dunga. Ainda assim insistimos. Por quê?


Gostamos de teorias conspiratórias. À verdade sobre o assassinato de Kennedy optamos pelas versões. Na realidade, não queremos a verdade, mas as versões que incidem sobre a verdade. Abaixo o pão-pão, queijo-queijo. Queremos a mesa completa. À história das complexas engrenagens e dos grandes sistemas, optamos pela narrativa romanceada, pela trajetória individual.

Acaso não estivéssemos submetidos aos mandos e desmandos de nosso totalitário-mor, já estaríamos enjoados daquelas entrevistas de perguntas decoradas e respostas repetitivas.

“E aí, como está o ânimo para o jogo de amanha?”


”Estamos focados e vamos dar tudo pela vitória, com certeza.”


Estamos fartos de ver as famílias dos jogadores reunidos à sala e simulando emoção ante o comando de um Tino Marcos da vida. Sua mais recente e criativa intervenção consistiu em colocar os pais do jogador Maicon para conversar com ele ao término daquela pelada contra Portugal.

”Oi pai!”


”Tudo bem filho? Estamos aqui torcendo por você e por todos os seus companheiros...”


”Tá bom pai...”


O semblante do atleta não conseguia disfarçar o constrangimento e o enfado.


E o áulico Tino:


”Ainda não acabou, tem mais... olha quem quer falar com você...”


”Oi filho! Deus está com você e os seus companheiros...”


”Tá bom mãe...”


Tanta tecnologia, tanto satélite posto no espaço e ao fim e ao cabo é pra isso que servem.

Ainda assim prossigo deplorando a censura imposta pelo Dunga. Acaso ela sempre tivesse existido não teríamos as pérolas que se seguem


"Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, vôo 619 da VARIG.' (Mengálvio, ex-meia do Santos, em telegrama à família quando em excursão à Europa)


'Tanto na minha vida futebolística quanto com a minha vida ser humana.'
(Nunes, ex-atacante do Flamengo, em uma entrevista antes do jogo de despedida do Zico)


'Que interessante, aqui no Japão só tem carro importado.' (Jardel, ex-atacante do Grêmio)

'As pessoas querem que o Brasil vença e ganhe.”
(Dunga, em entrevista ao programa Terceiro Tempo)

'Eu, o Paulo Nunes e o Dinho vamos fazer uma dupla sertaneja.'
(Jardel, ex-atacante do Grêmio)


'O novo apelido do Aloísio é CB, Sangue Bom.' (Souza, meio-campo do São Paulo, em uma entrevista ao Jogo Duro)


'A partir de agora o meu coração só tem uma cor: vermelho e preto.' (Jogador Fabão, assim que chegou no Flamengo)


'Eu peguei a bola no meio de campo e fui fondo, fui fondo, fui fondo e chutei pro gol.' (Jardel, ex- jogador do Grêmio, ao relatar ao repórter o gol que tinha feito)


'A bola ia indo, indo, indo... e iu!' (Nunes, jogador do Flamengo da década de 80)

'Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu.'
(Claudiomiro, ex-meia do Inter de Porto Alegre, ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 72)


'Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola.' (Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe longo)


'No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente de 15 em 15 dias.' (Ferreira, ex-ponta esquerda do Santos)


'Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe.' (Jardel, ex-atacante do Grêmio e da Seleção)

'O meu clube estava a beira do precipício, mas tomou a decisão correta, deu um passo a frente...'
(João Pinto, jogador do Benfica de Portugal)


'Na Bahia é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar.' (Zanata, baiano, ex-lateral do Fluminense, ao comentar sobre a hospitalidade do povo baiano)

'Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático.'
(Vicente Matheus, eterno presidente do Corinthians)


'O difícil, como vocês sabem, não é fácil.' (Vicente Matheus)


'Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão.' (Vicente Matheus)

'O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável.'
(Vicente Matheus, ao recusar a oferta dos franceses)

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