terça-feira, 25 de maio de 2010

Mercadoria tem de circular


A seleção de 82 era o que havia de melhor, com jogadas e recursos que correspondiam aos critérios estéticos do futebol da época. Quem chegou agora e só conhece o modelo a partir do título de 94 não saberia apreciar 82. Ou talvez soubesse, haja vista a surpresa que causa o time de moleques do santos.
82, porém, é a aura eliminada pela época que passa, a despeito do videotape.
Então, Zico, Sócrates, Falcão não jogariam hoje?
Um falso problema. Falso, porque não pode ser verificado. As condições objetivas do futebol atual têm outras necessidades. Um "craque" hoje apresenta características distintas. Sócrates, por exemplo, seria outro hoje.
Não é apenas um futebol diferente: é uma maneira distinta de ver futebol.
Não faz muito tempo - nem sequer 20 anos - e a revolução provocada pela submissão ao mecanismo de preços de sentimentos, paixões e valores do futebol, se não cancelou a imagem do culto, modificou-a profundamente, adaptando-a à industria cultural em que se transformou a cultura da bola.
O "craque" não mais se afirma associado à imagem de um clube. Possui ele próprio unidade e duração. Serve de suporte, mercadorias de todo o tipo a ele aderem e a prova está em cada centímetro quadrado da roupa que veste.
Falam de Ronaldo, ainda bem longe do Flamengo. Mas não se trata de um atleta, tampouco um craque: Ronaldo é sócio do corínthias nos 45 milhões mensais que leva à conta daquele clube presidido com cara de pelego da força sindical. O resto é o resto, discussão menor, só cabível entre os engradados que cobram do Mano Menezes algo acima de sua atribuição.

"O fato de não ser mais do que negócio, basta-lhe como ideologia" - a frase é de Adorno, sempre muito útil, a respeito da indústria cultural.

Adriano, ao contrário, perdeu dinheiro. Mercadoria, entretanto, tem de voltar a circular.

Ao menos, nos deixou o Hexa.

Valeu, meu irmão.

SRN

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